top of page

Revolução silenciosa dos livros

  • Deyse Reis
  • 14 de mar. de 2018
  • 3 min de leitura

Na pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, em 2001, constatou-se que o brasileiro lê uma média de 1,8 livros por ano e que 30% dos alunos de 1ª a 4ª série, do ensino fundamental, nunca tiveram contato com o livro. Os números assustam diante da grande população brasileira, que por falta de tempo ou de dinheiro, não pratica a leitura.

O Governo e o Ministério da Cultura promovem eventos culturais e projetos, mas o maior incentivo à leitura parte dos cidadãos comuns que têm o sonho de ver o país com mais leitores. Este é o caso do baiano Lázaro César, 43 anos, que em 2000 iniciou o projeto Ler na Praça. Residente no bairro de Brotas, em Salvador, Lázaro levava livros e revistas para a praça da Cruz da Redenção, tornando o ambiente apto para a leitura. As doações cresceram, restando a Lázaro se desfazer do antigo restaurante, próximo à praça, para comportar todos os livros.

Embora continue se chamando Ler na Praça, o projeto se estendeu ganhando o caráter bibliotecário. A sede oficial em Brotas tem 20 mil exemplares, de diversos gêneros, e pode ser utilizado por qualquer pessoa que queira desfrutar de uma boa leitura ou fazer uma pesquisa. Não há ficha. O usuário pode pegar o livro e devolver quando quiser. "Eu sei que é um risco. Eu posso emprestar o livro e a pessoa não me devolver, mas eu procuro confiar na palavra. A minha intenção é promover a leitura. Só isso".

Sem nenhuma lucratividade, o projeto conta exclusivamente com doações. "O governo nunca me ajudou. Ao contrário, a SUCOM até tirou a placa com o pedido de doações. O prefeito sabe da existência do projeto, já veio aqui inclusive, mas não me apoia. Eu mantenho tudo sozinho".

A pequena biblioteca recebe visitação diária de 60 pessoas, sendo, em sua grande maioria, alunos do ensino fundamental da rede pública. "Eu venho aqui sempre porque tem muito mais livros do que na biblioteca da escola e aprendi a ler não só como tarefa, mas por diversão", diz Elaine Nobre, 18 anos. "A minha felicidade é ver a garotada pegando o livro e se divertindo. Se ele gostar muito, eu dou o livro. Para mim, a internet não vai superar nunca o bom e velho livro", diz Lázaro.

No dia 26 de agosto, Lázaro foi homenageado pela Academia de Cultura da Bahia. "Eu não faço questão de reconhecimento. Quero apenas divulgação e apoio para o projeto". O próximo passo planejado é a parceria com a rede de supermercados Bompreço. Já foi montada uma pequena biblioteca dentro da loja de Brotas e aguarda resposta da diretoria da empresa para implantar mais de 51 mini bibliotecas em toda a rede. "A pessoa pode fazer as compras em Brotas, fazer a ficha, levar o livro para casa e devolver na loja do Iguatemi. Isso gera uma praticidade e atinge um público maior", comenta Lázaro. Além disso, o Ler na Praça já atingiu outros bairros e cidades, num total de 31 mini bibliotecas em Calabetão, Plataforma, Irará, Conceição do Jacuípe, Água Fria e São Gonçalo dos Campos.

Biblioteca Prometeu

Outro trabalho interessante é o da biblioteca Prometeu e Betty Coelho. Criada em 1994 pelo poeta Douglas de Almeida, o projeto visa o incentivo à literatura, em especial a literatura baiana, além da leitura de ciências humanas como história, filosofia, artes plásticas, música e teatro.

A sede fica na Boca do Rio e nela funcionam duas bibliotecas, tendo apenas como diferença o público, pois a Betty Coelho é voltada para a literatura infantojuvenil. O projeto conta atualmente com o apoio da Petrobras para o aluguel da sede, mas ainda sobrevive de doações. "Temos 3,100 livros no total. É um número pequeno se comparado a outras, mas nós privilegiamos a qualidade e não a quantidade", afirma Douglas.

O espaço promove ainda eventos culturais como citação de poesia e leitura de histórias. Por conta do aniversário de cinco anos da nova sede, no dia 22 de setembro, das 14h às 17h, acontecerá um curso para contadores de histórias e a entrada é franca.

"O livro faz uma revolução silenciosa. Só precisa de incentivo", diz Lázaro.

Serviço

Projeto Ler na Praça

Como doar: Doar diretamente na sede, em Brotas ou ligar para 9937-1089 e procurar por Lázaro.

Horário de funcionamento: das 7h às 17h, todos os dias.

Biblioteca Prometeu e Betty Coelho

Como doar: Passar na sede ou ligar para 3362-0374 e procurar Douglas.

Horário de funcionamento: das 15h às 19h de segunda à sexta.

Endereço: Rua Gustavo dos Santos, 38, Boca do Rio

>> Texto escrito em 2005 para a ABAN (Agência Baiana de Notícias) por Deyse Reis. A imagem foi inclusa para ilustrar e o crédito da autoria é do devido fotógrafo.

Comments


Posts Em Destaque
Posts Recentes
Arquivo
bottom of page