Não perturbe, estou criando
- Deyse Reis
- 15 de mar. de 2018
- 3 min de leitura
O fanático Futebol. Paixão nacional que instiga homens e mulheres. Para alguns, o esporte chega a ser uma religião. Assim acontece com Luiz Antônio Lavoura, 26, estudante de administração. O quarto é praticamente um santuário do Vitória. Das janelas às portas do guarda-roupa, não há um só espaço vazio. Há diversos recortes de jornais, notícias, fotos, pôsteres das diferentes equipes do time e figurinhas espalhadas e coladas pelas paredes. As prateleiras, acima da cama, estão recheadas de miniaturas de jogadores ou bonequinhos uniformizados. A toalha, jogada em cima da penteadeira, claro, tem o emblema rubro negro. "Eu sou apaixonado pelo Vitória e gosto de acordar vendo o símbolo do time", diz Luiz.
As paredes, se olhadas bem de perto, revelam a mudança frenética de cores. Anteriormente, fora pintada de preto. Em seguida, o quarto estava todo em vermelho. Diante da indecisão, hoje estão brancas e cobertas por jornais falando das conquistas do time. a "paisagem" demorou para chegar ao estado atual. "Desde os 20 anos que eu recorto uma notícia aqui, compro um adesivo ali. Só depois que meu pai deu um basta nas minhas pinturas, eu resolvi colar o que já tinha". Os únicos objetos que não fazem parte do fanatismo são as latas de cerveja que coleciona. "Depois que bebo, guardo as mais bonitas". O Comunicativo Aniversário, Natal, Dia do Amigo. Sempre que essas datas se aproximam, os cartões e bilhetes começam a aparecer. O tempo passa e só acumulam. Mardel Pettor, 27, estudante de design, optou por ser prático e criativo.
"O papel ficou pequeno. Então passei a usar a porta do quarto como um grande mural. Em seguida, passei para as paredes", conta Mardel. A única parede intacta é a do guarda-roupa. O branco apático ficou mais divertido com os diversos recados e desenhos dos amigos que deixaram a sua marca: bilhetes carinhosos escritos de caneta ou pinturas. "Eu tenho amigos artistas plásticos, desenhistas e achei interessante que eles tivessem um espaço para liberar sua criatividade".
Temporariamente, o teto está vazio. Em seu outro apartamento, Mardel tinha todo o quarto tomado pelos desenhos, mas teve que se mudar e o mural está sendo refeito. Há nove anos, Mardel começou a por em prática a ideia do "mural gugante". "Todo mundo teve sua marquinha ou algo que simbolizasse. Eu só fiz divulgá-la em um espaço maior".
O Inspirado Rafael Santos Sasso, 21, estudante de publicidade, é um amante convicto do seu curso, simplesmente respira propaganda. Vê anúncios publicitários tanto ao acordar quanto ao dormir. Seu quarto tem recortes de revistas e panfletos, todos com interessantes anúncios espalhados pela parede. "Adoro principalmente os de cigarro, cerveja e saúde. São muito criativos", diz.

Além dos recortes, as paredes e o teto têm fotografias em preto e branco e pedaços de negativos de filmes. "Eu estou aprendendo a tirar foto e me apaixonei. Toda paisagem bacana que eu vejo, eu colo. Só não gosto de foto de gente, porque me enjoa ver a mesma cara todo dia". Se a caixa de um produto também chama a atenção, ela vai para o "hall da fama", mesmo que o nome da marca seja retirado. Sasso aprecia ainda as montagens e, no canto superior da parede, disponibilizou uma delas com recortes de rostos de personalidades sobrepostas às receitas de dietas. "É mais uma crítica a essa paranoia de beleza e dieta compulsiva".
É claro que olhar para um quarto cheio de imagens chama a atenção. Porém, o surpreendente está no canto do quarto - um cone de sinalização! O hábito de colecionar objetos é de família. Sua irmã decidiu coletar alguns cones, mas não tinha onde guardá-los. Sobrou para o irmão, que acabou adorando a ideia e adotando o "pequeno" objeto como mascote. Sem contar que tem um jeito todo especial de pendurar outros pertences. O ventilador de teto, quebrado há algum tempo, serve de suporte para dispor seus colares e adereços. "Assim é mais prático. É só esticar o braço e já está na mão".
>> Texto escrito por Deyse Reis em 2006, para o jornal Subscrito, na seção "Espaço". Crédito da foto para Malcon Robert
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