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Resenha do livro "Comunicação de massa do século XX"

  • Deyse Reis
  • 13 de mar. de 2018
  • 3 min de leitura

Edgar Morin, sociólogo francês, em seu livro Comunicação de massa do século XX, analisa o comportamento da cultura industrial, trazendo novos conceitos e críticas.

A cultura define as relações humanas e as particularidades das sociedades, incorporando símbolos, mitos à vida cotidiana. A cultura de massa também age dessa forma, mas se destaca por ser produzida industrialmente, destinando-se a um público específico. Vive-se um novo processo de colonização, onde a alma humana é a colônia e a cultura de massa é a metrópole colonizadora.

Embora alguns intelectuais considerem a cultura de massa como o novo ópio do povo, a maioria vê com maus olhos, considerando-o como uma mera mercadoria feia, vulgar, exagerada ou simplesmente Kitsch. Morin se mantém neutro frente a essa crítica e procura expor os problemas dessa nova cultura e o leitor deve tirar suas próprias conclusões.

A cultura se diferencia de outra a depender do tipo de intervenção sofrida, que pode ser uma intervenção negativa, controlada e censurada ou uma intervenção com caráter mais liberal. Quanto mais a cultura sofre intervenção, mais burocrática e padronizada ela fica. Porém, por ser cultura, por ser ela quem define as particularidades de uma sociedade, ela precisa do novo, do individual.

É importante incorporar individualidade nos produtos para que se tenha a ilusão do diferente. Na verdade, todos os produtos dão padronizados, pois assim recebem uma aceitação maior e a garantia de sucesso é certa. O novo corre o risco de desagradar e falhar. É por isso que se cria a ilusão de individualidade, instigando o consumismo. A indústria cultural precisa dessa contradição de invenção-padronização para se manter e se adaptar ao público.

Essa era industrial introduziu as suas técnicas numa cultura e a criação está se formando produção. O que antes era feito e elaborado por uma pessoa só, agora é feito por várias pessoas, incorporando uma divisão de trabalho. Num desenho em quadrinhos, por exemplo, diversas pessoas fazem o mesmo desenho, enquanto outras pintam e retocam. A individualidade de criação virou uma produção em série. Essa racionalização da cultura corresponde a padronização.

Essa padronização visa o máximo de consumo, satisfazendo todos os interesses e gostos do público. Para Morin, sincretismo é a melhor palavra para definir essa tendência em homogeneizar os conteúdos. Um só programa de rádio pode tocar canções dos mais variados estilos ou um filme pode mesclar mais de um estilo para agradar ao espectador.

Além disso, o público passa ser dividido, específico, o que facilita o alcance da cultura industrial. Porém, essa divisão não restringe classes sociais. A cultura industrial engloba e une as classes, fazendo com que tanto o operário quanto o patrão assista o mesmo filme, leia o mesmo jornal. É a democratização do consumo.

Morin define o homem médio como aquele homem universal, capaz de entender e captar o que é oferecido pela cultura industrial. Enquanto isso, a cultura de massa deve se adequar as leis de mercado, oscilando entre as necessidades do público, do homem médio e as necessidades de produção.

Apesar de trazer uma democratização ao consumo, a cultura industrial vulgariza a produção. Cria uma multiplicação desenfreada dos produtos, porém limitando-os. A cultura de massa, por exemplo, simplifica um roteiro de um filme inspirado por um livro qualquer, de forma que fique mais inteligível para o espectador, distorcendo o sentido do romance. Isso quando não exagera na dose de maniqueísmo, contrastando mais nitidamente o bem e o mau do que na obra original.

A cultura de massa precisa integrar o público com a produção para sobreviver. Seja no cinema, na televisão ou nos romances, a cultura industrial procura retratar a vida cotidiana, os conflitos e os sonhos humanos de forma que haja uma identificação com o leitor ou do espectador. A cultura mescla o real com o imaginário, capturando nossas almas.

Assim como pode criar ilusões, a cultura pode transformar produtos para um consumo universal. Uma cultura folclórica pode sofrer alterações para melhor se adequar ao consumo maciço, se integrando a outros folclores.

Morin finaliza com a problemática do tempo livre e do novo lazer. Antes, o indivíduo passava seu tempo livre com a família ou viajando para outros lugares, tentando esquecer das angústias e do cansaço. A cultura industrial então se encarrega de levar o espectador a outro lugar, através das imagens, fazendo-o parte integrante da ação televisiva. O espectador esquece os problemas na frente da televisão ou do cinema. Morin traz uma intrigante reflexão sobre a nova cultura de massa.

>> Texto escrito por Deyse Reis em 2005.

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