Resenha do texto de Rildo Cosson
- Deyse Reis
- 13 de mar. de 2018
- 2 min de leitura
Reportagem disfarçada de romance ou romance disfarçado de reportagem? O que viria a ser o romance-reportagem? O termo criado por Ênio Silveira deveria caracterizar as obras com conteúdo real, embora adotassem a narrativa como linguagem básica, tendo um toque mais ficcional. Mas o romance-reportagem não é apenas uma reportagem grande e detalhista publicada em livro. Pode-se considerar esse modelo como um novo gênero, pois traz a literatura como forma de linguagem e escrita e o jornalismo como conteúdo, se misturando de tal forma que seja difícil determinar os limites de ambos.

O romance-reportagem surge no Brasil na década de 1970. Ele seria a consequência da censura e repressão efetivada pelo regime militar no jornalismo. Os jornalistas se viram podados e resolveram procurar um novo meio, um novo espaço para escrever. Como a literatura era pouco vigiada pelo regime, ela tornou-se o meio mais viável para relatar as denúncias e verdades omitidas.
Os primeiros romance-reportagem são lançados em 1975, quando a censura prévia nos jornais já havia sido suspensa. A forte censura jornalística é anterior a 1975 e o período de publicação dos romance-reportagem começam após essa data. Portanto, esse modelo foi adotado muito mais pela denúncia do que como protesto ao regime.
Os jornalistas que tinham em mente assumir uma postura militante e de resistência, procuravam a imprensa alternativa. Entretanto, os autores dos romance-reportagem, de um modo geral, não atuaram nessa imprensa. A censura foi um estopim sim, para o surgimento desse novo gênero, mas aliada à indignação dos jornalistas que não encontravam mais espaço para os jornais para escrever. A imprensa brasileira passara a utilizar o padrão norte-americano, que trazia uma série de técnicas e regras. Justamente por não se adaptarem a essas novas exigências, os jornalistas usaram as suas experiências nos jornais e criaram o novo modelo.
Na verdade, é mais fácil aceitar que os romances-reportagem surgiram da repressão da censura do que admitir a mistura de dois discursos como uma nova narrativa singular. A literatura como linguagem ficcional de mundo e o jornalismo como linguagem objetiva e padronizada de uma realidade factual. Discursos tão opostos juntos? É o que o romance-reportagem vem propor.
>> Texto escrito em 2004 por Deyse Reis. Imagem meramente ilustrativa e o crédito da autoria é do devido fotógrafo.






















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